No dia 01 de outubro de 1987, o primeiro programa foi ao ar. Um pequeno passo que resultou em uma longa caminhada foi dado naquele momento. Muito antes, porém, desde julho de 1985, um grupo de corajosas mulheres sonhadoras da IECLB – naquela época, grupo de mulheres da OASE, Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas, da RE IV, Região Eclesiástica IV – decidiu colocar uma ideia em prática. Ao pensar e elaborar um pouco mais essas ideias, uma comissão resolveu bater à porta do escritório do então administrador da Rádio, o P. Carlos Frederico Reinardo Dreher. Essas mulheres eram Marianne Korndörfer, Vera Leane Roth e Ruth Margarit Boll.
Ao ir para a Rádio, levavam na mão a proposta de usar 30 segundos do tempo de transmissão para divulgar o trabalho das mulheres da OASE, afinal, a Rádio também estava vinculada à IECLB, Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil. Elas queriam divulgar um programa escrito por mulheres. E qual não foi sua surpresa quando receberam uma ousada contraproposta: usar três minutos diários de programa, de segunda a sexta-feira! Isso equivaleria a escrever laudas de 30 linhas para cada um desses dias da semana. A resposta não foi menos ousada: “Sim, o faremos!” Essas mulheres saíram da reunião com o coração contente, os olhos brilhando e a mente perguntando: “Será que vamos conseguir?”
O resultado dessa audaciosa caminhada está explícito entre nós, pois ainda hoje, depois de 25 anos ininterruptos, as gotas de fé, esperança e otimismo saem da torneira-microfone para alentar espíritos cansados, passos esmaecidos e alegrias apagadas. Afinal, desde a sua criação, o “Conversando com Você” é a gota para completar o seu dia, como reza o slogan do programa. As ondas moduladas da Rádio ainda mantêm a sua assídua frequência, o programa, a sua essência, o seu entusiasmo e seus/suas ouvintes na escuta.
Depois daquela conversa inicial de apresentação da proposta, seguiram-se encontros de formação, os seminários de treinamento. Durante bastante tempo, P. Carlos e, depois, P. João Artur Müller da Silva, o Joca, foram os facilitadores
desses seminários. Aprender a escrever uma lauda, expressar sua opinião no papel, ler e gravar os programas foram sendo atividades pelas quais, durante todos estes anos, muitas mulheres passaram. Umas descobriam os seus dons, outras os colocavam à disposição, ainda outras acabavam seguindo por rumos distintos.
Esta história de 25 anos não estaria registrada de forma plural se não contemplasse as dúvidas, as tristezas e as dificuldades pelas quais o programa passou. Algumas mulheres não puderam seguir colaborando com seus textos por diversas razões. Encontrar alguém para escrever ainda hoje é uma constante preocupação e desafio. A pergunta que as três mulheres pioneiras fizeram naquela época ainda é muito real: Será que vamos conseguir encontrar textos para a semana de Natal deste ano? Será que vamos encontrar locutoras para seguir colocando as mensagens no ar? Será que conseguiremos organizar a grade do próximo semestre?
Também uma tristeza profunda e uma despedida sem volta se abateram sobre essas valentes mulheres quando faleceu, aos 54 anos, Ruth Boll, uma das fundadoras e grandes motivadoras do programa. Em sua memória, queremos lembrar aqui de outras mulheres que vieram a falecer nestes últimos 25 anos ou que se viram necessitadas a recolher-se devido a alguma doença ou impedimentos de outra ordem. Mas como a vida não é uma linha reta, a história do “Conversando com Você”, história de muitas vidas, mostrou várias outras faces. A semente brotou e deu frutos em muitos lugares. Outras mulheres e outras rádios interessaram-se por esse mutirão das palavras de ânimo em forma de gotas. Naquela época, a IECLB ainda estava subdividida geograficamente em Regiões Eclesiásticas, hoje, Sínodos, esses em proporções um pouco distintas daquelas. Assim, as RE II, V e VI, através das mulheres, queriam multiplicar o sonho iniciado há 25 anos na RE IV.
Quando o programa cumpriu 10 anos de transmissão, as mulheres lançaram uma edição comemorativa e, nela, entre outros, registraram em quais emissoras o “Conversando com Você”, com esse mesmo nome, ainda ia ao ar no Rio Grande do Sul. Essa proposta foi assumida pela Rádio São Lourenço, de São Lourenço do Sul; pela Rádio América, de Montenegro; pela Rádio Felicidade e pela Rádio Excelsior, de Gramado; pela Rádio Upacaraí, de Dom Pedrito; pela Rádio Venâncio Aires, de Venâncio Aires, e pela Rádio União, de Teutônia.
Em Santa Catarina, também há esse registro no livro “Conversando com Você – Reflexões para o dia a dia”, quando lá o programa completou 20 anos em 2008. O programa era transmitido pela Rádio União FM, de Blumenau; pela Rádio Educadora, de Taió; pela Rádio Cidade AM e Rádio Diplomata FM, de Brusque; pela Rádio Mirador AM, de Rio do Sul; pela Rádio Cultura, de Timbó; pela Rádio Pomerode AM, de Pomerode; pela Rádio Jaraguá AM, de Jaraguá do Sul; pela Rádio Comunitária Espaço Aberto FM, de Massaranduba, e pela Rádio Comunitária FM, de Imbuia.
Um dos grupos que continua a transmissão do “Conversando com Você” é o da RE II, hoje correspondendo à área dos Sínodos Centro-Sul Catarinense e Vale do Itajaí. A sede da coordenação encontra-se em Rio do Sul/SC, onde também reside a sua coordenadora, Arnilda Rück. Arnilda aparece, no livro comemorativo mencionado acima, na lista de mulheres às quais se agradece a colaboração.
Depois de Íris Butzke, Arnilda tem assumido com muita dedicação, zelo e perseverança o trabalho de manter o programa no ar. Íris Butzke também é incansável lutadora, colaboradora, já foi coordenadora
do programa em SC, assim como uma das fundadoras. Motiva até hoje, com seus textos e com seus convites, a que mulheres participem desse mutirão. Parabéns, mulheres corajosas de SC, por seus agora 24 anos de caminhada ininterrupta e por seus 24 anos em deixar sua marca de fé e ânimo no cotidiano catarinense!
Os temas tratados nos programas sempre foram muito variados. Mencionavam o dia a dia, situações específicas de mulheres, biografias, educação, valores, cultura brasileira, saúde, ecologia e política, direitos humanos, povos indígenas, ciência e tecnologia, resistência, amargura, solidão e as datas comemorativas, que não poderiam faltar (Páscoa, Advento, Natal, Ano Novo).
E como funciona esse escrever? As dicas recebidas nos seminários de treinamento foram importantes. Escrever de forma concisa e de maneira que a pessoa ouvinte acompanhe a mensagem do início ao fim são técnicas para o bom encaminhamento do texto. No livro comemorativo aos dez anos, encontramos um resumo do que é necessário observar ao escrever um texto para rádio nos moldes do “Conversando com Você”. Essas observações ainda são válidas para hoje e, através dessas dicas, novas mulheres podem sentir-se desafiadas a colocar a sua opinião no ar.
As dicas no livreto são: mensagens breves e claras, frases curtas e em ordem direta, palavras simples. O texto mantém a dimensão de 25 a 30 linhas. A mensagem é clara quando a autora consegue resumi-la em uma frase. Não acontece divulgação de informações científicas ou técnicas nesse programa. Por isso palavras muito específicas de uma determinada área do conhecimento precisam ser reescritas, para que a mensagem não se torne aula de um determinado curso. Informações técnicas que aparecerem e que se fizerem necessárias para a compreensão do que a autora quer dizer podem ser usadas, desde que seja lembrado o uso de palavras simples.
Ser concisa é outra necessidade e característica das mulheres escritoras desse programa. É bom tirar do texto temas novos que surgem quase ao final ou argumentações que não levem adiante a ideia central da mensagem. Nessa hora, essas palavras são supérfluas. Ao escrever, ter em mente que ocorre uma conversa, uma conversa com você, tratamento dado pelo programa ao público ouvinte. Lembrar a diversidade desse público e usar o espaço como possibilidade de testemunho, liderança e cidadania das mulheres. Por isso, quanto mais mulheres quiserem juntar-se a esse movimento, vem, entra na roda com a gente!
Durante estes anos, o “Conversando com Você” não ficou somente nas ondas das rádios. Ele também foi publicado em livros, alguns deles já mencionados anteriormente. Cabe uma palavra um pouco mais detalhada sobre essas publicações e seus conteúdos. Além de conter uma amostra dos muitos textos que Ruth Boll escreveu, este livro quer homenagear sua dedicação e amizade ao trabalho das mulheres. Foi publicado em sua memória. Ele revela momentos da vida de Ruth Boll através de uma pequena biografia. O prefácio vem assinado pela diretoria da OASE da RE IV, que vinha dirigindo as atividades de 1985 a 1989. Nele, as mulheres mencionam “o dinamismo, a liderança, a simplicidade do dispor-se a colaborar na equipe de coordenação de Ruth Margarit Boll”, elementos decisivos “para que, a 01 de outubro de 1987, tenha início, pela Rádio União FM – 105.3 MHz, às 10 horas e 55 minutos, de segundas a sextas feiras, o programa ‘Conversando com Você’”.
Ruth viveu o programa até o final de sua vida em 21 de abril de 1989, escrevendo muitos textos. Desde seu tempo de estudante do Colégio Sinodal, em São Leopoldo/RS, Ruth já ajudava na redação do jornal do Grêmio Estudantil, além de haver escrito um diário de viagens aos Estados Unidos. Gostava muito de ler. Lia livros em português, alemão e inglês e sempre tinha um deles à mão.
O Boletim Informativo da OASE era uma publicação periódica. Quando o “Conversando com Você” completou cinco anos de transmissão, as mulheres publicaram essa edição especial, relacionada somente com o programa.
Nele, Marianne Korndörfer, presidente da OASE da Região IV, escreve sobre o surgimento do nome do programa. Marianne também relata sobre o primeiro “Seminário de Treinamento”, o qual familiarizou as mulheres escritoras voluntárias com as palavras técnicas desse contexto de rádio.
“Gotas que completam o seu dia” é o slogan usado, pois o programa quer transmitir mensagens de otimismo, esperança e fé em pequenas doses diárias e completas em seu conteúdo. A torneira representa
tanto a fonte inesgotável de assuntos que podem ser apresentados como o meio de levar o líquido a se transformar em gotas. O microfone também é o meio de levar as mensagens, os pensamentos a todos os ouvintes".
De 1987, ano em que o programa foi ao ar pela primeira vez, até 1992, cinco anos depois, mais de 30 mulheres formavam a equipe de redatoras. Foi uma equipe promissora e que movimentou o cotidiano de muitas delas. Mulheres que passaram a escrever textos descobriram muitas coisas sobre si mesmas, sobre trabalho em equipe, sobre comunhão. São valores agregados que o programa continua reforçando através de sua dinâmica, metodologia e voluntariado.
Logo após esse início na RE IV, programas foram ao ar, com o mesmo nome, em Blumenau e Florianópolis, ambas as cidades em Santa Catarina. A RE II também formou uma equipe de redatoras, isso em 1988. Esse programa continua suas atividades, que foram ampliadas com o passar dos anos até os dias de hoje.
Vera Roth também escreve um texto nesse Informe Especial. Ela faz uma análise do tempo que passou e que o mesmo teve muitos acontecimentos importantes. O programa é visto como uma conquista de espaço para a atuação das mulheres na IECLB. Há um agradecimento ao P. Carlos F. R. Dreher, que acolheu a ideia, que nada mais era do que “um desejo muito grande de se comunicar através da Rádio União FM”, conforme palavras de Vera. Além disso, o agradecimento é especial pelo acompanhamento, pelos seminários de treinamento e pelas reuniões de planejamento. Ele também é estendido ao P. Joca. Vera lembra aqui de Ruth Boll e de todas as mulheres escritoras que participaram de seminários, nos quais foram motivadas a escrever.O desafio de publicar um novo livro é expresso nesse Boletim, além de mencionar a edição de 1989.
Nesse Boletim manifesta-se Henrique Fernando Korndörfer, 2° vice-presidente da Fundação ISAEC de Comunicação – FIC/IECLB. Ele envia uma saudação especial à data comemorativa e chama a atenção para a principal característica do mesmo: “feito por amadoras em sistema de mutirão”. Essa metodologia ainda segue até hoje e faz com que as mensagens mantenham e cultivem a diversidade de ideias, além de contribuir para que mulheres assumam liderança e se expressem de forma escrita.
O Boletim publicou textos já transmitidos, seja de mulheres que, naquela época, já haviam deixado o grupo, ou textos de mulheres que ainda eram autoras. Também se encontram ali depoimentos de uma das locutoras e de duas escritoras sobre as suas respectivas tarefas. Elas dizem que o programa “[...] foi como um presente ganho por uma criança, que há muito o desejava e, finalmente chegando o dia, o recebeu.” Ou “levantar o astral; transmitir alegria, energia, energizar se. [...] É dando que se recebe... diz-nos uma canção. É por isso que escrevo para o ‘Conversando com Você’”. E ainda: “Gosto e acho bom transmitir os programas [...] Tem sido uma boa experiência”.
Foi publicada, no Boletim Especial, uma carta de Francisco Paulo de Oliveira, presidente da Câmara Municipal de Estrela/RS, enviando aplausos à equipe do programa. Lá, o mesmo vai ao ar pela Rádio Alto Taquari. Os vereadores consideram os temas abordados importantes “para a formação humana e cristã da comunidade estrelense”. Essa homenagem foi prestada a pedido da vereadora Belkis Carolina Calsa, e a carta é datada de 29 de maio de 19903.
A presidente da OASE da RE IV, Gertrudes Kreter, escreve a apresentação dessa edição comemorativa. Gertrudes parabeniza a OASE pelos 10 anos de transmissão do programa. Parabeniza também a Rádio União FM, de Novo Hamburgo/RS, pioneira na veiculação do programa, e as outras 13 emissoras no RS e em SC que transmitem o “Conversando com Você”.
Essa edição é uma coletânea de textos de mulheres, 31 mensagens ao todo, selecionadas entre os anos 1995 e 1996. Ali, alguns temas tratados foram: Comer para ter saúde; Deficiência: é melhor prevenir;
Mulher atuante na Igreja; Igualdade na esfera doméstica; Violência contra a mulher.
Marianne Korndörfer e Suzete Nitzke da Silva, 2ª vice-presidente e secretária da OASE RE IV, respectivamente, escreveram um artigo, dirigindo o olhar para os “Dez anos de reflexão pela rádio”. Hoje o programa continua no sistema de escrever laudas de até 30 linhas, uma para cada dia útil da semana. Houve mudança de equipe, mas o mesmo objetivo ainda segue: o de transmitir esperança e fé pelas ondas da rádio.
No final da edição, Sibyla Baeske, uma das escritoras do programa, anota 10 observações sobre como escrever as mensagens. Como já mencionado antes, essas são dicas que ainda valem para hoje! Na contracapa dessa edição comemorativa, publicou-se o texto de abertura do “Conversando com Você”, aquele que foi ao ar em 01 de outubro de 1987. Esse texto foi escrito por Vera Roth, no qual ela fala de
um sonho que se tornou realidade. A edição também recorda as mulheres que redigiram textos durante esses 10 anos.
Esse livro celebra os 20 anos do “Conversando com Você” em SC. Arnilda Rück menciona, na primeira orelha, que as locutoras têm recebido retornos de carinho sobre o programa. O prefácio é escrito pelo P. Adelmo Oscar Struecker, P. Vice-Sinodal do Sínodo Centro- Sul Catarinense, e a apresentação, pela presidente nacional da OASE, Ani Cheila Kummer. O livro é resultado da compilação de alguns artigos
escritos durante os 20 anos de transmissão do programa. Ani Cheila destaca que o mesmo faz parte do dia a dia das pessoas que o ouvem, que o programa faz parte de suas rotinas diárias.
A primeira mensagem transmitida foi escrita pela Pa. Marianne Beyer Ehrat. Nela, a Pa. Marianne ressalta que o programa quer ser “uma boa conversa com você”, “queremos ajudá-la a enxergar melhor as coisas ao seu redor”. Seguem as demais mensagens e a lista de colaboradoras, às quais se agradece o empenho. Há também um registro histórico através de fotografias, em um total de 12. A maioria reflete momentos de encontros de formação e de elaboração das grades. Ildo Franz, estudante de Teologia, testemunha na contracapa:
"Na certeza do cumprimento da promessa do Nosso Deus de que nenhuma das suas palavras seja sem sentido e vazia, vejo que o programa “Conversando com Você” [...] é como gotas de orvalho que a cada dia regam o coração de muitas pessoas com a palavra do nosso Deus. Estes são os festejos nestes 25 anos. O nosso programa especial chegou ao fim. Estes foram anos em que alegrias e tristezas se misturaram,
fazendo parte da dinâmica da vida, que é festa e ausência dela ao mesmo tempo. Essa mistura molda todas/os nós, faz-nos crescer e frutificar com novos e edificantes textos para criar mais uma geração de gotas que completam o seu dia.
Pa. Dra. Renate Gierus
Redatora do “Conversando com Você” e
Coordenadora Pastoral e Programática do COMIN,
Conselho de Missão entre Indígenas – IECLB
Agosto 2012
Fonte: Livro Coletânea para Sentir - 25 anos Conversando com Você - Editora Oikos,
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